"O perfeccionismo é uma faca de dois gumes", diz Simon Sherry, pesquisador da Universidade de Halifax, no Reino Unido, e atualmente ligado à Universidade de Dalhousie, no Canadá. Seu novo estudo mostra que indivíduos com algum grau de perfeccionismo em suas vidas muitas vezes estão caminhando para problemas físicos, emocionais ou mentais - em especial para o binge. Menos fácil de ser diagnosticado - ao contrário da anorexia e da bulimia nervosa - o binge também é uma espécie de transtorno alimentar. O binge ocorre quando uma pessoa perde o controle momentâneo, consumindo rapidamente uma grande quantidade de comida em um curto período de tempo. A condição é indicativa de riscos para o desenvolvimento da depressão, obesidade, diabete e outros problemas. Sherry, que publicou seu estudo no periódico Journal of Personality and Social Psychology, trabalhou com Peter Hall, da Universidade de Waterloo, no Canadá. Os pesquisadores acompanharam um grupo amplo de universitários, observando se havia relação entre hábitos perfeccionistas e comportamento de binge. Perfis de perfeccionistas Além de confirmar a relação, Sherry e Hall apontam que há um perfil de perfeccionistas que está em maior risco: aquele que acredita que outras pessoas o estão avaliando criticamente, um tipo bastante diferente do perfeccionista autocrítico - que se caracteriza pelo temor da pessoa em estar sendo julgada constantemente por alguém próximo para que sua performance seja a melhor possível. "Ao que parece, os perfeccionistas sofrem com a pressão diária. Essa inflexibilidade e as expectativas irreais sobre sua própria performance também podem criar problemas de relacionamento", observa Sherry. Os pesquisadores apontam que o binge pode acabar sendo um modo de autoflagelo, que envolve dor - por conta da grande ingestão alimentar -, vergonha (fazer algo descontroladamente), sentimento de culpa e isolamento social (para não ter de admitir uma falha). O binge, no final, acaba sendo uma forma de escapar de outros sentimentos que poderiam ter lugar a qualquer momento (fora do alcance do controle do perfeccionista). Para escapar de uma realidade desencorajadora, seria necessário, para esses indivíduos, fazer algo fora de controle em um pequeno espaço de tempo e usar o remorso como propulsão para tentar atingir, novamente, os objetivos inalcançáveis. "A intenção de nossa pesquisa é tentar melhorar a vida desses indivíduos, ampliando as oportunidades de tratamentos e estratégias", dizem os pesquisadores. "A sociedade, de certa forma, parece promover esse tipo de atitude perfeccionista, mas essa adaptação social é feita de forma errônea. Alguém que tem objetivos mais maleáveis e com expectativas mais realistas - um modelo que a maioria das pessoas não associa ao perfeccionismo - provavelmente conseguiria melhores resultados profissionais, por exemplo." O problema com os perfeccionistas é que eles não estão atentos a essas falhas e não admitem pedir ajuda, pois isso demonstraria um traço de imperfeição que eles, normalmente, fazem de tudo para esconder, diz Sherry. "Espero que essas pessoas, ao se depararem com esse estudo sobre binge, observem que é possível que elas estejam necessitando de ajuda e que a perfeição compulsiva pode ser mudada."
Fonte: portal Uol
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