Enquanto na Europa e Estados Unidos o mercado fatura a olhos vistos ao atender a demanda de mulheres com curvas avantajadas, por aqui, as fofinhas são órfãs de estilo. Marginalizadas pelo mundo fashion, as mulheres padrão GG ou plus size dispõem de poucas opções para se vestir. É mais fácil se adaptarem ao que encontram nas araras do que usufruírem de uma variedade de lojas e confecções especializadas.
Pensando nesse público, o jornalista Jeff Benício e a consultora de moda Malena Russo lançaram este ano o livro Moda para Mulheres Reais (www.mulheresreais.com.br), pela editora Haz. É uma das poucas publicações especializadas em meio a milhares de títulos de moda. Mulheres comuns, vestidas com roupas para várias ocasiões, posaram para as lentes de Nelson Aguillar, profissional que desenvolve um trabalho interessante de retratos. A seguir, um bate-papo com os autores:
Como surgiu a ideia?
Jeff: A partir do sucesso crescente do segmento plus size no exterior. O objetivo é chamar a atenção para o potencial desse mercado, ainda tão pouco explorado no Brasil, e ressaltar que todas as mulheres têm o direito de se vestir com elegância, independentemente do peso e das medidas.
Há uma falta de criatividade nesse segmento?
Jeff: A indústria da moda praticamente ignora as mulheres que vestem tamanhos maiores, apesar de o número de consumidoras desse segmento ser incrivelmente grande. Afinal, a maioria das brasileiras não se enquadra nos padrões vistos nas passarelas e vitrines. As confecções nacionais têm se conscientizado do potencial desse mercado, com base no que acontece nos Estados Unidos, onde é fácil encontrar roupa com qualidade e ótimo design, para deixar a gordinha elegante e sexy. É óbvio que as magras têm mais facilidade de se vestir. Mas as gordinhas conquistam cada vez mais espaço e mostram que a elegância não é medida com fita métrica nem balança.
Quais as queixas?
Jeff: As mulheres que estão fora do padrão da moda, em geral, procuram uma loja especializada em moda para gordos – o que ainda causa constrangimento em muitas pessoas, devido ao preconceito da sociedade – ou então recorrem aos serviços de uma costureira e alfaiate, o que faz o custo da roupa ser maior.
Quem ganha pouco e não tem o corpo de uma Gisele Bündchen, como se vira?
Malena: Para se vestir bem não é necessário ter um armário gigantesco. Basta ser racional na hora da compra. Uma dica é investir em peças versáteis, de boa qualidade, e também nos acessórios capazes de valorizar uma produção básica. É importante usar a criatividade para combinar as peças e se apresentar sempre de uma maneira interessante. Até as papisas da moda repetem roupa! Basta um colar, um cinto ou um lenço para renovar o look.
Por que os confeccionistas brasileiros não investem nesse segmento?
Jeff: É óbvio que há preconceito contra quem está acima do peso. A moda costuma ser pensada para pessoas magras. Porém, aos poucos, as pessoas do mundo fashion são convencidas de que é possível ser elegante usando 46, 48 ou até numeração maior. As grandes confecções e as lojas de departamento começam a perceber que é possível lucrar muito com esses consumidores.
Quais os erros de moda mais comuns entre as mulheres cheinhas?
Malena: O maior deles é usar roupas de numeração menor. Para valorizar o corpo, a pessoa precisa escolher uma roupa na proporção exata. Por exemplo: se a mulher tem muito busto, deve abusar do decote V. Outra dica: evite marcar a cintura. Um truque para disfarçar o volume do abdome é usar um cinto largo logo abaixo do busto.
Apesar da flexibilidade da moda, o que se deve evitar a todo custo?
Malena: Nada mais deselegante do que tecido justo demais, que revela exatamente aquilo que se pode disfarçar. É bobagem tentar emagrecer usando apenas roupas pretas. Estampas, listas e texturas são permitidas. Basta fazer a escolha correta e fugir de armadilhas corriqueiras, como calça de cintura baixa, blusa colada ao corpo, vestido curto demais, estampas miúdas e tecido transparente. Prefira tecidos planos e fluidos, estampas grandes e geométricas, e sempre fique atenta ao corte da roupa, que deve seguir as características da silhueta.
E o que pode ser evidenciado na silhueta avantajada?
Malena: A parte do corpo da qual mais se gosta. Mostre o que a deixa mais segura. Dois exemplos: vestidos soltos para evidenciar as pernas, e decotes para ressaltar o busto. Explorar as "melhores partes" ajuda a ofuscar aquelas imperfeições e os volumes.
Quais as principais dúvidas das cheinhas?
Malena: As cores, o corte e o comprimento. No caso de um casamento, cuidado com as fendas, o excesso de brilho e as estampas exageradas. Evite tecidos que criam volume demais, como tafetá e xantungue. O mais indicado é usar tecidos finos, como seda, viscose e crepe. Capriche nos acessórios: bolsa com pedraria, sapatos com detalhes, etc.
Quais os tipos de saltos que valorizam o corpo? E as bolsas, podem ser grandes?
Malena: Saltos altos alongam, dão mais estrutura e confiança às mulheres grandes. Mas é fundamental só usar o salto alto se tiver segurança. Nada mais deselegante do que uma mulher se desequilibrando por aí. Bolsas grandes ainda serão vistas na próxima estação. Porém, mulheres baixinhas precisam tomar cuidado com bolsas volumosas. O visual pode ficar desproporcional.
A lingerie errada pode arruinar o visual?
Malena: Pense primeiramente no conforto. Calcinha com lateral mais larga e reforçada, e sutiã com bojo reforçado são os grandes aliados de qualquer mulher. Antes de ser sexy, a lingerie precisa ser confortável.
Duas-peças ou maiô inteiro?
Malena: Para as mulheres que não assumem o excesso de peso, maiô inteiro. Já aquelas que estão com a autoestima lá em cima devem apostar nos modelos duas peças. O importante é que a peça seja confortável e, se possível, com forro reforçado para estruturar bumbum e seios. Em relação às cores e estampas, a dica é a mesma: evitar os exageros que "gritam" aos olhos.
Quais as musas de formas voluptuosas que são modelos de estilo e atitude?
Jeff: A nova queridinha de tamanho grande do mundo fashion é a roqueira americana Beth Ditto. Ela se tornou uma porta-voz do direito à elegância para as gordinhas. Acaba de lançar uma coleção em parceria com a grife Evans. Outras famosas que assumem o excesso de peso com dignidade e estilo são a atriz e cantora Jennifer Hudson (ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante por Dream Girls), a atriz e ídolo teen Nikki Blonsky (estrela do filme Hairspray), a apresentadora de TV Oprah Winfrey e a modelo brasileira Fluvia Lacerda, a principal top model plus size do mercado americano. Podemos citar ainda as cantoras Paula Lima e Preta Gil. Todas são referências de elegância, estilo e autoestima.
FONTE: http://www.estadao.com.br/
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